O Presidente da Associação Brasileira de Empresas Aéreas e Professor do Curso de Lazer e Turismo da EACH USP, Eduardo Sanovicz, analisa a conjuntura e as perspectivas do turismo.
Pensando em turismo internacional, esse último quinquênio pré-crise foi muito ruim para o país, a Embratur e o Ministério do Turismo viveram momentos de muita indefinição, de pouca assertividade e momentos em que não houve nenhum tipo de plano concreto estratégico implementado, quer seja, nos sentidos de estruturar melhor nossas destinações, ou competências, ou mão de obra, ou serviços. Também, não houve nenhum tipo de avanço mensurável, palpável em ações de promoção, nacionalmente, ou internacionalmente.
Isso se agravou de 2019 para cá, com uma gestão extremamente errática, porque, do ponto de vista internacional, cabendo à Embratur as ações, foram enterrados o Plano Aquarela e a Marca Brasil. A Embratur é dirigida por profissionais que até podem ser bem intencionados, mas não têm nenhum tipo de background, ou de noção sobre estratégias de promoção e marketing turístico, e isso acaba gerando uma paralisação geral nas ações de promoção.
Do ponto de vista da malha aérea, nós seguimos um processo gradual de expansão para um conjunto de destinos latino-americanos, inclusive, novos destinos, na Bolívia, no Chile, no Paraguai, no Uruguai, na Argentina. A expansão é maior na Argentina, pois a diversificação é maior lá, em razão da demanda econômica. Mas o Brasil foi muito mais emissivo do que receptivo, nesses últimos cinco anos, principalmente, em razão dos temas referidos anteriormente.
Promoção turística é disputa comercial, não é um assunto teórico, são destinos que têm interesses comerciais objetivos, porque querem rentabilizar sua oferta hoteleira, sua oferta gastronômica, sua oferta comercial, sua oferta cultural, natural. Tudo isso, na medida em que chega o visitante, gera renda, gera emprego, gera trabalho, gera novos negócios, e todos disputam um mercado que é finito, esse mercado tem um teto. Na hora em que o Brasil deixou de atuar, isso, nos cinco anos, que vêm de 2016, 2017 para 2021, tornou-se patente.
O Brasil deixou de atuar e, nos últimos dois anos, cometeu alguns pecados graves, como o caso da Marca, e, também outros, como criar campanhas de pouco sentido competitivo. Além de muito desafinado com as tendências internacionais, o Brasil perde espaço, e esse espaço é ocupado por concorrentes. Então, é com esse cenário que nós chegamos à crise, em 2020, em função da pandemia.
Com a pandemia, primeiro, exclusivamente, por questões ligadas à saúde, há uma retração da malha nacional e internacional. A malha nacional caiu para 8% do que era antes da crise, a malha internacional caiu para 9% do que era antes da crise. A malha doméstica vinha num processo de recuperação a partir de julho, agosto de 2020, com a implementação dos protocolos de segurança sanitária; a malha internacional não.
A malha internacional, foco desta conversa, não volta, por causa das consequências dos erros, dos equívocos da gestão da crise sanitária, cometidos pelo governo federal, na condução do processo de enfrentamento à Covid-19. O dado bem objetivo é que o brasileiro, hoje, é o segundo turista mais rejeitado do planeta, isso, conforme dados públicos, que podem ser buscados em várias referências. O primeiro país com maior rejeição é a África do Sul, os turistas sul-africanos têm veto a ingressos em 119 países. O Brasil tem veto em 116, e os turistas do Reino Unido têm veto em 114 países.
Isso significa que deveremos superar a crise quando tivermos vacinação em massa, e precisaríamos de uma coordenação nacional unificada, que não existe, portanto, os estados e os municípios estão atuando, cada um na sua forma, passando a cumprir e tentando implantar protocolos de prevenção e de saúde. Pressupondo que estes existam, que a vacinação em massa seja um fato, vamos ao terceiro passo, que é o período superação da crise sanitária.
Qual será o nosso grande desafio? Recuperar a imagem do país, não apenas do ponto de vista do tratamento da saúde, mostrando que é seguro vir para o Brasil e ser recebidos lá fora, mas, também, do ponto de vista de imagem. No imaginário das pessoas, o Brasil, que tinha uma tradição secular de soft power, de promoção, de ações, por meio de cultura, como fazíamos, desde 2003, com o Plano Aquarela, de atuar nos fóruns internacionais, como promotor de paz, de autonomia dos povos, mudou completamente essa política, nos últimos anos.
Isso também tem consequências sobre o formador de opinião, que, de alguma forma, decide, não apenas sobre o lazer, mas, fundamentalmente, sobre os segmentos de turismo mais rentáveis, que são eventos e corporativo. Esses dois segmentos serão muito abalados do ponto de vista internacional, com relação a vir para o Brasil, porque várias empresas e várias entidades vão recear muito até voltar a associar suas imagens e suas marcas ao nosso país, realizando, por exemplo, um grande avento aqui, daqui a um ano ou dois. O cenário à frente é, portanto, desafiador e extremamente difícil.
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