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A TRAJETÓRIA DO TURISMO BRASILEIRO NO SETOR PRIVADO

  • Foto do escritor: Edegar Luís Tomazzoni
    Edegar Luís Tomazzoni
  • 15 de ago.
  • 4 min de leitura

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A trajetória do turismo no Brasil no setor privado revela um processo de transformação contínua, marcado por ciclos de inovação, expansão e adaptação às mudanças econômicas, sociais e tecnológicas. Desde o final do século XIX, quando hotéis de luxo e estâncias hidrominerais surgiam para atender à elite urbana, até o século XXI, com a consolidação de resorts, parques temáticos, plataformas digitais e experiências personalizadas, o empresariado brasileiro e internacional desempenhou papel decisivo na estruturação e diversificação da oferta turística. A análise histórica, considerando as especificidades regionais - Sul, Sudeste, Nordeste, Norte e Centro-Oeste -, evidencia que o setor privado foi responsável por investimentos diretos em infraestrutura e serviços e por moldar padrões de consumo e criar produtos, inserindo o Brasil no cenário turístico global.


Final do século XIX – início do século XX

Marcos nacionais: Hotéis de luxo como o Grande Hotel La Rotisserie Sportsman (Guarujá, 1892) e hotéis termais em Poços de Caldas (MG), Caxambu (MG) e Araxá (MG). Sul: Desenvolvimento do turismo de veraneio em praias catarinenses (Laguna, Florianópolis) e início da hotelaria em estâncias hidrominerais como Iraí (RS). Sudeste: Expansão de estâncias hidrominerais (Serra Negra, Águas de Lindóia) e litoral paulista. Nordeste: Primeiros empreendimentos de hospedagem nas capitais Salvador e Recife, voltados a viajantes de negócios e elite local. Norte: Hotelaria incipiente em Belém e Manaus, voltada ao ciclo da borracha. Centro-Oeste: Pousos e hospedarias para viajantes comerciais em Cuiabá e Goiás Velho.


1920–1930

Marcos nacionais: Inauguração do Copacabana Palace (1923); expansão de hotéis-cassino. Sul: Turismo de inverno e imigração europeia criam hospedagem em Gramado, Canela e Curitiba. Sudeste: Cassinos no Rio e em Poços de Caldas; empresas privadas investem no litoral fluminense. Nordeste: Primeiros hotéis modernos em Salvador e Fortaleza, voltados a elite e comércio marítimo. Norte: Turismo ligado à navegação fluvial e hotelaria modesta em portos amazônicos. Centro-Oeste: Hospedagem de apoio a rotas comerciais e atividades agropecuárias.


1940–1950

Marcos nacionais: Aviação privada se expande; hotéis urbanos e de negócios crescem. Sul: Criação de hotéis voltados a termas e serras, como Caldas da Imperatriz (SC). Sudeste: Consolidação de hotéis de luxo no Rio e São Paulo; resorts termais mineiros. Nordeste: Modernização de hotéis centrais em Recife e Salvador. Norte: Hotéis em Belém e Manaus adaptam-se a hóspedes de negócios. Centro-Oeste: Crescimento do turismo de pesca esportiva no Pantanal e das pousadas.


1960–1970

Marcos nacionais: Chegada de redes internacionais (Hilton, Sheraton); Club Med Itaparica. Sul: Desenvolvimento do turismo de inverno em Gramado e Canela com hotéis temáticos privados. Sudeste: Litoral paulista e fluminense ganham resorts e hotéis de veraneio; Campos do Jordão se torna destino de elite. Nordeste: Primeiros investimentos privados em resorts costeiros (Bahia, Pernambuco). Norte: Empresas privadas começam a explorar passeios na floresta amazônica. Centro-Oeste: Turismo de pesca e hotéis em Brasília voltados a eventos e políticos.


1980

Marcos nacionais: CVC inicia expansão nacional; cruzeiros marítimos se consolidam. Sul: Crescimento de parques temáticos como o Mini Mundo e atrações culturais em Gramado. Sudeste: Ampliação da hotelaria em São Paulo para turismo de negócios; expansão de cruzeiros no porto de Santos. Nordeste: Resorts privados surgem em Porto Seguro, Salvador e Natal. Norte: Primeiras pousadas flutuantes privadas no Amazonas. Centro-Oeste: Empresas privadas desenvolvem o ecoturismo em Bonito (MS).


1990

Marcos nacionais: Entrada de redes Accor, Meliá; privatização de rodovias e aeroportos. Sul: Parque Beto Carrero World é inaugurado (1991). Sudeste: Turismo emissivo cresce; Rio e São Paulo recebem novos hotéis internacionais. Nordeste: Expansão de resorts (Costa do Sauípe, Iberostar, Catussaba). Norte: Hotéis de selva no Amazonas e Roraima ganham visibilidade internacional. Centro-Oeste: Privatização impulsiona modernização de aeroportos; hotéis de luxo em Brasília.


2000

Marcos nacionais: Expansão de resorts e parques temáticos; eventos corporativos se multiplicam. Sul: Gramado consolida o Natal Luz como evento privado de grande porte. Sudeste: Litoral do Rio e SP atrai hotéis-boutique; megaeventos culturais privados. Nordeste: Beach Park (CE) se expande; turismo de sol e mar cresce com capital privado. Norte: Cruzeiros de luxo no Amazonas. Centro-Oeste: Bonito e Pantanal recebem investimentos privados em hospedagem sustentável.


2010

Marcos nacionais: Airbnb, apps de transporte; turismo de experiência cresce. Sul: Vinícolas privadas da Serra Gaúcha criam enoturismo estruturado. Sudeste: Parques privados como Inhotim (MG) tornam-se atrativos internacionais. Nordeste: Roteiros de luxo e pousadas exclusivas em Jericoacoara e Fernando de Noronha. Norte: Empresas privadas oferecem expedições de aventura na Amazônia. Centro-Oeste: Resorts de luxo no cerrado e fazendas adaptadas ao turismo de alto padrão.


2020

Marcos nacionais: A pandemia de Covid-19 impulsiona viagens domésticas; digitalização acelerada. Sul: Hotéis e parques investem em protocolos e turismo regional. Sudeste: Empresas privadas fortalecem marketing para destinos de proximidade. Nordeste: Resorts adaptam operações para turismo interno de curta distância. Norte: Turismo de natureza e pesca esportiva se adapta a pequenos grupos. Centro-Oeste: Ecoturismo privado ganha força com foco em experiências exclusivas.


Conclusão

A evolução do turismo no Brasil sob a ótica do setor privado demonstra que o desenvolvimento da atividade não se deu de forma homogênea, mas acompanhou o dinamismo econômico e cultural de cada região, aproveitando vocações naturais, históricas e culturais específicas. No Sul, a valorização do turismo de inverno e enogastronômico; no Sudeste, a força do turismo de negócios e eventos; no Nordeste, o destaque para o turismo de sol e mar; no Norte, a exploração sustentável da Amazônia; e no Centro-Oeste, o ecoturismo e a pesca esportiva, exemplificam como a iniciativa privada diversificou e consolidou o mercado.

Essa trajetória reforça que, embora o Estado tenha papel relevante na formulação de políticas e infraestrutura básica, foi a capacidade empreendedora do setor privado que deu forma, escala e competitividade ao turismo brasileiro, possibilitando que evoluísse de uma atividade elitista para um segmento de massa, adaptado às exigências contemporâneas de inovação, sustentabilidade e experiência.

 
 
 

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