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“AUTOPLÁGIO”, GÊNERO ACADÊMICO QUE NÃO EXISTE

Atualizado: 3 de abr. de 2023

São Paulo, 5 de abril de 2017


PROFESSOR DR. EDUARDO YÁZIGI (IN MEMORIAN)


Como é bem sabido, o conhecimento é um processo, isto é, uma temática de abordagens com um início inseparável da sequência, ao longo do tempo. Quem já teve a oportunidade de estudar “genética literária”, disciplina já consagrada, logo se dá conta de que, comumente, um autor dedicado escreve um texto de determinado assunto, que pode publicar, ou não, mas que, no futuro, retoma o mesmo texto para ser inserido num contexto explicativo maior e mais adequado, fato que pode, ou não, ser feito em paráfrase.


Segundo gravações, Luis Inácio de Loyola Brandão, lembrou, em meu curso, que, “no processo da criação”, é extremamente normal e muito usual que escritores consagrados montem um “banco” de frases, ou de palavras, que lhes agradam, mas que ainda não sabem quando ou onde utilizá-lo. Isso é mais do que banal, como pode ser aferido em textos originais dos mais célebres autores, desde quando só existiam apenas datilografia e manuscritos.


Com o tempo, o número de correções, que tais autores fizeram em textos, chega a embaralhar nossa leitura. Digite-se, no Google Imagens, “manuscritos” de Marcel Proust, Karl Marx, Jean Piaget, de quem quer que seja, e vejam-se as modificações feitas no original, comparadas com uma edição já publicada. Isso é estonteante, porque a criatividade é um processo, em que o autor é livre para escrever como quiser, sem falar dos que preferem paráfrases.


Do meu ponto de vista, tais procedimentos, como seu grau de originalidade são, isso sim, de competência primeira de membros de academias de ciências, ou de letras, ou, ainda, dos registros de direitos autorais da Biblioteca Nacional. Se assim não for, rogo, a quem nisso não crê, que solicite à Capes a anulação da premiação que obtive pela minha obra “Deixe Sua Estrela Brilhar”, sobre o Processo Criativo, que recebeu a menção “Obra de Nível Nacional de Conceito A”.


Repito, o processo criativo é constante, sem fim. Leia-se um bom tratado de heurística para entender isso. Um dos exemplos mais contundentes refere-se ao Prêmio Nobel, conferido a Albert Einstein. Vulgarmente, a maioria dos leitores se engana, pensando que sua premiação, com o Prêmio Nobel, seja em razão da formulação da teoria da relatividade geral. Isso é absolutamente falso! Anos antes, Einstein houvera publicado um simples artigo sobre a luz, em 1905 (sobre efeitos fotoelétricos) que, este sim, lhe conferiu tal premiação.


Alguém que tenha um mínimo conhecimento de história da física acredita que ele não se serviu, abusivamente, do que fora publicado muito antes, até chegar à relatividade geral? Absolutamente, toda a criatividade é histórica. Nada é criado a partir do zero, nem a primeira pirâmide do mundo, nem uma Sinfonia de Beethoven. A auto reconstrução, em maior ou menor grau, existe em autores que escrevem uma obra, retomando reflexões anteriores, contemporizando-as. I


Isto é, a certeza do conhecimento “final” não é jamais definitiva. E o que falar, então, das repetições “ad eternam”, mais do que comuns e abusivas do uso de grandes mestres, que tiveram suas glórias no passado remoto? Em matéria de música a autocitação é, também, comum, assim como em pintura: possuo dois originais a lápis, de Tarsila do Amaral, feitos em 1919, que, mais tarde, se tornaram quadros célebres e mais bem acabados. Alguém pode considerá-la “auto plagiadora”?


Inversamente, uma famosíssima tela de Gauguin mostra duas jovens tahitianas, sentadas num banco sem espaldar, rodeadas da colorida ilha. Quem conhece pintura egípcia não pode deixar de notar a incrível semelhança, milênios passados, com a obra de Paul Gauguin, até mesmo, na posição dos corpos. Será ele, por isso, plagiador? Repito: existe uma “história da criatividade” respeitadíssima pela heurística.


Para que, então, o recomendado “estado da arte” nos trabalhos científicos? Em definitivo, nego o conceito absurdo de autoplágio. O que deveria ser feito, como pareceres de relatórios, seria uma crítica contundente sobre o conteúdo científico apresentado em cada um de seus aspectos dominantes. Interesso-me sim pelos relatórios dos membros de meu Diretório, onde seus trabalhos e participações são altamente positivos.


Esta análise, do Professor Eduardo Yázigi, é publicada, aqui, com exclusividade. Conforme o Departamento de Geografia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Universidade de São Paulo, Eduardo Abdo Yázigi teve uma longa história na USP.


Primeiro, no início dos anos 1960, como aluno do curso de graduação em História e, alguns anos mais tarde, como docente, primeiro da Faculdade de Arquitetura e Urbanisno e depois, a partir do início dos anos 1990, do Departamento de Geografia da FFLCH USP, tendo se credenciado no Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana (PPGH) também nesse período.


Seu mestrado e doutorado, ambos orientados pelo geógrafo francês Pierre Monbeig, foram obtidos na Universidade de Paris, cidade onde viveu por mais de dez anos, entre final dos anos 1960 e meados dos anos 1970.


Poliglota (falava seis línguas) e erudito, Yázigi destacou-se nacional e internacionalmente por suas pesquisas sobre urbanismo e turismo, tendo publicado diversos livros, que se tornaram referência para estudantes, professores, pesquisadores e profissionais interessados nessas temáticas.


Entre suas publicações mais destacadas, podemos citar: “Turismo, uma esperança condicional” (1998), “O mundo das calçadas” (2000, derivado de sua tese de livre-docência, cujo título foi obtido em 1997), “A alma do lugar” (2001), “Civilização Urbana - planejamento e turismo” (2003), “Saudades do futuro: por uma teoria do planejamento territorial do turismo” (2009).


Tendo formado cerca de 30 mestres e doutores ao longo de sua carreira como docente, o seu legado acadêmico e intelectual se perpetua, portanto, não somente por suas obras, que incluem mais de duas dezenas de livros autorais ou organizados e diversos artigos científicos e capítulos de livros, mas também por sua participação vibrante e única na formação de muitos alunos e pesquisadores.



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