top of page

O MODELO OBSERVATUR E A SISTEMATIZAÇÃO DE INDICADORES PARA O DESENVOLVIMENTO DE DESTINOS TURÍSTICOS

  • Foto do escritor: Edegar Luís Tomazzoni
    Edegar Luís Tomazzoni
  • 23 de nov.
  • 5 min de leitura

O desenvolvimento do turismo nos âmbitos municipal e regional depende, fundamentalmente, da existência de indicadores confiáveis e sistematizados, capazes de traduzir a realidade socioeconômica, institucional e territorial dos destinos. A falta de organização de dados comparáveis compromete o planejamento e a gestão pública, limitando a capacidade de formular políticas de longo prazo. Foi diante desse desafio que se elaborou o Modelo Observatur, como um sistema metodológico e analítico voltado à coleta, ao tratamento e à interpretação de dados sobre o turismo municipal, articulando as dimensões de: governança, inteligência territorial e competitividade.

O Observatur justifica-se em razão de que o turismo deve ser compreendido como um sistema dinâmico, interdependente e multiescalar, em que atores públicos e privados interagem por meio de redes de cooperação e instâncias de governança. Assim, mais do que um instrumento de diagnóstico, o modelo é uma ferramenta de inteligência territorial, convertendo informações dispersas em conhecimento aplicável à gestão e ao planejamento de políticas de turismo. Sua proposta metodológica, baseada em eixos conceituais e categorias analíticas, possibilita comparar realidades municipais e avaliar o grau de institucionalização das práticas turísticas no território.

O principal objetivo do projeto é reunir e sistematizar indicadores de gestão e desenvolvimento de destinos turísticos municipais e regionais, considerando as dimensões econômica, cultural e organizacional do turismo. Entre seus objetivos específicos, destacam-se a atualização conceitual do próprio modelo, a seleção de municípios representativos das diferentes realidades regionais brasileiras e a aplicação de um instrumento padronizado de coleta de dados. A intenção é identificar potencialidades, fragilidades e perspectivas de cada destino, inclusive, sua possibilidade de evolução para a condição de destino turístico inteligente, conceito alinhado à inovação, à sustentabilidade e à integração digital.

O modelo fundamenta-se teoricamente em três pilares fundamentais: governança, entendida como cooperação e articulação entre os atores do sistema turístico; inteligência territorial, que implica a capacidade de transformar dados em conhecimento útil para decisões estratégicas; e competitividade, relacionada à eficiência do destino em gerar valor e atratividade. Essa base conceitual reflete uma visão contemporânea da gestão pública do turismo, que vai além da promoção e do marketing, incorporando a análise de desempenho institucional e a eficiência das políticas de regionalização.

Os municípios escolhidos devem integrar o Mapa de Regionalização do Turismo, de modo a garantir diversidade e representatividade territorial. A coleta de dados é realizada mediante questionário estruturado, composto por questões fechadas e abertas organizadas em dez eixos conceituais, que abrangem desde a infraestrutura e o meio ambiente até a qualificação profissional e a governança regional.

O instrumento de pesquisa caracteriza-se pela abrangência e profundidade, pois examina os aspectos econômicos, como número de empresas e empregos gerados pelo turismo, e os fatores de infraestrutura, mobilidade urbana, saneamento, cultura, meio ambiente e segurança. Essa abordagem multifatorial possibilita abordar a complexidade do sistema turístico local, reconhecendo-o como resultado de interações entre dimensões sociais, espaciais e institucionais.

Entre os eixos conceituais propostos, destacam-se: Dados econômicos, que englobam orçamento público, geração de emprego e prospecção de mercados; Infraestrutura, meio ambiente e serviços essenciais, avaliando condições urbanas e ambientais do destino; Configuração da oferta turística, com ênfase na estrutura de alojamento, alimentação e transportes; Desempenho e priorização da atividade, medido por indicadores de fluxo turístico e arrecadação; Integração e governança regional, que examina a articulação institucional e os projetos de cooperação; Produção turístico-cultural, centrada na identidade local e na valorização da cultura; Planejamento turístico, qualificação profissional, divulgação e eventos, dimensões que completam o quadro analítico.

Cada categoria é avaliada segundo três critérios de cumprimento - “cumpre totalmente”, “cumpre parcialmente” ou “não cumpre”  o que permite a elaboração de perfis comparativos entre municípios e a identificação de padrões de maturidade da governança turística. Após a coleta, os dados são sistematizados em percentuais que representam o grau de avanço de cada categoria analítica. Essa quantificação não tem caráter meramente descritivo; ela serve para revelar interdependências entre variáveis econômicas, sociais e institucionais. Assim, por exemplo, o fortalecimento da governança regional pode estar correlacionado com melhorias na qualificação profissional e no desempenho econômico do setor, enquanto deficiências na infraestrutura podem limitar o aproveitamento de potencialidades culturais e naturais.

É essa perspectiva sistêmica que aproxima o modelo Observatur de abordagens de inteligência territorial, que consideram o território como um espaço de aprendizado coletivo. A análise não se restringe a medir desempenho; busca compreender como as políticas públicas e as interações entre atores produzem efeitos cumulativos sobre o desenvolvimento local. Dessa forma, o modelo contribui para o entendimento das condições reais de sustentabilidade e inovação do turismo municipal.

A principal contribuição esperada do Observatur é a criação de uma base empírica estruturada de indicadores capaz de subsidiar o planejamento público e orientar políticas de regionalização. Essa sistematização permitirá identificar potencialidades e fragilidades de cada destino, gerando insumos para o desenho de estratégias específicas de desenvolvimento e promoção. Além disso, o modelo busca esclarecer o retorno dos investimentos públicos e o impacto das políticas de qualificação, infraestrutura e marketing. A comparação entre municípios proporcionará uma leitura regional das dinâmicas do turismo, apontando tendências e boas práticas replicáveis.

O Observatur, portanto, transcende o campo acadêmico, assumindo um papel instrumental no planejamento estratégico do turismo, na avaliação da competitividade regional e na formulação de políticas públicas baseadas em evidências. Sua adoção por gestores municipais e estaduais poderá fortalecer a integração entre instâncias de governança e aproximar o Brasil de modelos internacionais de observatórios de turismo, como os promovidos pela Organização Mundial do Turismo (OMT).

A inovação do modelo consiste na integração entre método científico e aplicabilidade prática. Ao propor um sistema de indicadores que combina dimensões qualitativas e quantitativas, o Observatur estabelece um elo entre o conhecimento acadêmico e a gestão territorial. A metodologia possibilita análises comparativas, monitoramento contínuo e difusão de informações de forma transparente e acessível, por meio da plataforma digital www.observatur.com.br.

O caráter inovador também se manifesta no uso do conceito de inteligência como princípio estruturante. A inteligência, nesse contexto, é entendida como a capacidade de gerar valor público a partir do conhecimento - transformando dados brutos em orientações estratégicas para a ação. Essa concepção dialoga com as tendências internacionais de destinos turísticos inteligentes, em que o uso de dados, a conectividade e a participação cidadã constituem pilares da gestão contemporânea.

Além de sua utilidade prática, o projeto possui alto impacto científico, pois contribui para o avanço teórico sobre governança e territorialidade no turismo. A aplicação do modelo em diferentes contextos regionais permitirá gerar evidências comparadas e validar empiricamente conceitos frequentemente utilizados de forma abstrata.

O Observatur contribui para as metodologias de análise do turismo brasileiro. Sua abrangência temática e seu rigor metodológico o tornam uma base essencial tanto para a pesquisa acadêmica quanto para a gestão pública. Ao propor a mensuração sistemática de dimensões como cultura, meio ambiente, economia e governança, o modelo responde à necessidade de integração entre dados e políticas, ainda incipiente em muitos municípios.

No longo prazo, espera-se que o modelo fomente a criação de redes regionais de observatórios, fortalecendo a governança multiescalar e promovendo a circulação de informações entre diferentes esferas do poder público e da sociedade civil. O Observatur, enquanto marca registrada e conceito em consolidação, sintetiza o esforço de transformar o turismo em uma política pública inteligente, fundamentada em evidências e comprometida com o desenvolvimento sustentável dos territórios.

ree

 
 
 

Comentários


OBSERVATUR - 2020 - Todos os direitos reservados

bottom of page