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O TURISMO EXPLICA A ECONOMIA: DA HISTÓRIA DO PENSAMENTO ÀS PRÁTICAS CONTEMPORÂNEAS

  • Foto do escritor: Edegar Luís Tomazzoni
    Edegar Luís Tomazzoni
  • 10 de set.
  • 3 min de leitura

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A economia e o turismo se entrelaçam de forma profunda e dinâmica, pois expressam escolhas, prioridades e processos sociais, nos contextos da vida cotidiana, da prática profissional e do campo acadêmico. No cotidiano, o exemplo é a decisão de uma de viajar de ônibus ou avião, hospedar-se em hotel ou pousada, optar por um destino nacional ou internacional. Essas decisões articulam conceitos econômicos, como custo de oportunidade, escassez, orçamento e planejamento, mostrando que viajar é também praticar economia aplicada.

            Na esfera profissional, o turismo envolve um sistema de atividades econômicas. Um guia que oferece seus serviços, um hotel que define tarifas, uma agência que escolhe plataformas digitais, estão sujeitos às leis da oferta e da demanda, à sazonalidade e à necessidade de inovação. Na gestão de destinos, há trade offs,  em relação a uso de recursos escassos e a investimentos em infraestrutura, ou em marketing considerando-se o turismo como setor estratégico de geração de emprego, renda e desenvolvimento regional.

            Na academia, a relação entre economia e turismo é objeto de estudos e análises críticas. Pesquisadores analisam, por exemplo, o impacto da taxa de câmbio no turismo internacional, os efeitos da inflação sobre o lazer doméstico, ou o papel das redes de governança no fortalecimento de regiões turísticas, fundamentando-se em teorias econômicas clássicas e contemporâneas, que vão de Adam Smith e David Ricardo a Keynes, Schumpeter, Piketty e Mazzucato.

           A história do pensamento econômico também encontra paralelos diretos no turismo. O mercantilismo, com sua ênfase na acumulação de riqueza e no comércio ultramarino, explica as grandes viagens marítimas dos séculos XVI e XVII, que combinavam exploração, comércio e prestígio, inaugurando uma forma inicial de turismo vinculado ao poder. A fisiocracia, que via a agricultura como base da riqueza, evoca a valorização do turismo rural e do ecoturismo, que transformam a terra e a natureza em ativos turísticos.

           O liberalismo clássico, consolidado com a Revolução Industrial, impulsionou o turismo moderno do século XIX, marcado pelos transportes ferroviários, pelos balneários e pelo turismo cultural. O marxismo oferece visões críticas para entender o turismo de massa, suas desigualdades, a precarização do trabalho e a apropriação desigual dos benefícios econômicos. O neoclassicismo fundamenta a gestão de preços de hotéis, passagens e pacotes, permitindo calcular elasticidades e maximizar lucros em períodos de alta e baixa temporada. O institucionalismo mostra que o turismo depende de redes de cooperação, normas, políticas públicas e governança, antecipando as atuais discussões sobre arranjos de gestão de destinos.

              O keynesianismo legitima a intervenção estatal em planos nacionais de turismo, por meio de projetos de infraestrutura e políticas de incentivo, especialmente, nas crises econômicas. O monetarismo e o neoliberalismo sustentaram a liberalização do transporte aéreo, a privatização de aeroportos e a flexibilização do mercado de trabalho turístico, redefinindo a lógica de mercado do setor. A teoria schumpeteriana, da destruição criativa, explica as transformações contemporâneas do turismo, em que plataformas digitais substituem agências físicas, modelos alternativos de hospedagem desafiam hotéis tradicionais e novas experiências imersivas superam os pacotes convencionais.

             O estruturalismo e a teoria da dependência ajudam a compreender o turismo na América Latina, frequentemente, condicionado às limitações dos fluxos de turistas estrangeiros, à instabilidade cambial e às vulnerabilidades externas. A economia contemporânea amplia esse quadro, ao incluir a análise comportamental, que inspira políticas de nudges (pequenos impulsos) para escolhas mais sustentáveis em hotéis e destinos, o debate sobre desigualdade global, presente nas análises de Piketty, e a visão de Amartya Sen, que possibilita relacionar turismo ao desenvolvimento com base na expansão de capacidades humanas, além de aplicações das contribuições de Mariana Mazzucato, que reconhece o papel do Estado no fomento de inovações e políticas públicas.

            Assim, compreender o turismo é compreender a economia, pois ambos constituem dimensões indissociáveis da vida em sociedade. O planejamento de viagens, tanto no ambiente informal quanto no ambiente profissional, pressupõe vivências mercadológicas e contatos com inovação contínua, e a academia oferece instrumentos teóricos e críticos para interpretar e produzir conhecimentos sobre as práticas turísticas. O turismo contextualiza-se na trajetória da economia, de Smith a Mazzucato, aplicando ideias abstratas ás experiências concretas de viagem, lazer, à gestão de negócios e às estratégias de desenvolvimento de destinos turísticos. Dessa forma, pode-se afirmar que o turismo ensina economia, pois envolve escolhas coletivas e individuais, que moldam a realidade social e projetam tendências comportamentais e de mercado.

 

 
 
 

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