A pesquisadora Janaína Costa Sousa, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Turismo, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), da Universidade de São Paulo (USP), publicou, com a coautoria do seu orientador, o professor Edegar Luis Tomazzoni, o artigo "As Viagens Etnográficas e o Turismo Cultural na Obra de Mário de Andrade". O trabalho pode ser acessado na revista acadêmica Caderno Virtual de Turismo (UFRJ).
O tópico, "Discussões Metodológicas", transcrito, literalmente, do texto do artigo, apresenta algumas reflexões, na sequência das anteriores, em relação à relevância da pesquisa e aos seus procedimentos metodológicos. As categorias analíticas, mais do que denotadas no próprio texto do escritor e etnógrafo das viagens, são evocadas pelas descrições dos cenários e das realidades de vida das populações dos lugares por ele visitados.
Se, no texto de Mário de Andrade, o método etnográfico consubstancia-se pelas narrativas, relatos, descrições, explicações e esclarecimentos dos contextos analisados pelo pesquisador, essas categorias não estão somente implícitas; são inerentes e evidentes no seu conteúdo textual. O autor é autossuficiente, não somente porque sua obra é escrita de forma erudita, refinada, simples e clara, mas porque é Mário de Andrade, a referência, que se expressa com riqueza de detalhes. Se ele é o intelectual, o antropólogo, o revelador da alma brasileira é, portanto, pesquisador do turismo brasileiro, com base em visões da autenticidade e das identidades únicas.
Essas são razões pelas quais se enfatiza que esta discussão metodológica tem o enfoque de separar os procedimentos de pesquisa do artigo dos procedimentos de pesquisa do autor Mário de Andrade, mostrando, ao mesmo tempo, a forte imbricação entre ambos os procedimentos. Por se tratar de objetivo de analisar o turismo cultural em sua obra, representada essencialmente pela publicação bibliográfica O Turista Aprendiz, os critérios para a produção textual deste artigo foram os temas que constituem a estrutura deste texto, desde os aspectos biográficos, até os relatos, as interpretações das viagens etnográficas e as suas contribuições para o conhecimento do turismo cultural.
Como desdobramentos, para as respectivas seções do artigo, os critérios teórico-conceituais das categorias analíticas específicas, para análises mais minuciosas, são os significados de turismo cultural, vinculados à conceituação de viagens etnográficas, em articulação, também, com a definição de turismo cultural. As diversas formas de expressão e de manifestação dos grupos sociais e as relações destes com o turista aprendiz categorizam-se em: hábitos, costumes, tradições, modos de vida, processos de produção artesanal e interação com o meio ambiente.
Outro critério categorial é o conjunto de elementos que compõem os fatores motivacionais e decisórios das realizações das viagens etnográficas pelo autor pesquisador. A etnografia literária é o método dos estudos e da produção cultural em turismo de Mário de Andrade, na condição de turista cultural aprendiz, que assimila, reconhece e ensina as identidades locais e os valores dos grupos étnicos nacionais e de suas mais verdadeiras e singulares expressões. O artigo enquadra-se nos padrões da metodologia científica, por meio da análise do conteúdo representativo, com base na fundamentação conceitual de turismo cultural, ao mesmo tempo em que se identificam os procedimentos técnico-metodológicos das viagens etnográficas de Mário de Andrade.
A própria obra do poeta e escritor, que é o etnógrafo das viagens, o torna reconhecido como a referência de turismo cultural para as finalidades deste trabalho. Enfim, a visão cultural e etnográfica está contida no ciclo teórico-empírico produtivo da obra de Mário de Andrade. Estão implícitos e evidentes os conceitos de turismo e de turismo cultural, que abrangem a própria definição de cultura e de suas modalidades expressivas, como o folclore e o patrimônio. Mário de Andrade tinha um propósito ao ir a campo para realizar as suas investigações: valorizar a riqueza cultural do Brasil.
O propósito é aquilo que se define, no método científico, como o objetivo, que significa o sentido maior das suas missões: reunir conteúdos e fundamentações, que transcendessem a tarefa de mostrar produtividade acadêmica, por meio de indicadores, seja de publicações, seja de trabalhos técnicos. Na base, porém, desse propósito investigativo, havia o propósito central, motivador, a razão essencial das viagens etnográficas: conhecer a revelar a identidade e a diversidade cultural do Brasil. Para o conhecimento e a revelação dos valores nacionais, a viagem foi a estratégia metodológica, que lhe proporcionou os contatos presenciais e as vivências experienciais com as pessoas dos diversos lugares de percurso e de permanência.
A etnografia está presente no processo de interação e de observação direta e atenta das práticas cotidianas e das relações de acolhimento dos núcleos visitados e nas interações do intelectual com as pessoas, por meio dos diálogos e dos olhares observadores. Pensar nesse processo produtivo de O Turista Aprendiz foi argumento para seleção das leituras e redação analítico-interpretativa do texto deste artigo, priorizando-se a ideia de que a etnografia pressupõe “viajar para outras culturas”. Não há etnografia sem atenção ao desconhecido, ao diferente, sem o escopo da descoberta e da confirmação de expectativas.
O método etnográfico confunde-se com o método turístico, no sentido de ir ao encontro e de ter contato direto com outras identidades e manifestações culturais. Para a produção textual deste artigo, as leituras da bibliografia foram realizadas com base em critérios que identificassem o perfil de cientista, de idealista e visionário, a fim de verificar como Mário de Andrade produziu a sua obra e revelou, com base no seu dom literário, etnográfico e turismológico, a riqueza da diversidade e da intensidade da cultura brasileira.
Nesse processo, verificou-se como ele organizou as próprias viagens, planejou os roteiros de suas pesquisas, fez os registros de campo e as análises. Assume-se, como princípio fundamental, que Mário de Andrade foi pesquisador do turismo por essência, a fim de entender como as suas incursões foram modelos pedagógicos para os interessados no significado da viagem para a humanização cultural e a edificação espiritual das comunidades locais, dos turistas e do próprio Brasil.
O link para acesso ao artigo é:
http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/1861/713
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