A obra reúne contribuições sobre temas relacionados à gestão regional e às políticas públicas de turismo, de forma a indicar possibilidades de reflexões e de realizações de futuros estudos. Os textos são resultados de uma das atividades realizadas pelos discentes da turma do primeiro semestre de 2020 e alunos especiais, que cursaram a disciplina de Gestão Regional do Turismo, do Programa de Pós-Graduação em Turismo (PPGTUR), da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), da Universidade de São Paulo (USP).
A partir da análise de projetos, planos e programas públicos de turismo, com destaque para o Programa de Regionalização do Turismo (PRT) e outros documentos disponibilizados pelo setor público nos websites dos órgãos oficiais da área, os alunos fizeram análises ligadas às temáticas de suas pesquisas no PPGTUR.
O estudo da gestão regional do turismo inicia-se pelas discussões sobre o desenvolvimento regional e a necessidade de compreender a “região” como território, cuja configuração envolve fatores do ambiente natural e, principalmente, ações humanas da produção espacial. Na diversidade de elementos que determinam a delimitação das fronteiras regionais, despontam as atividades produtivas, entre as quais se destaca o turismo, como setor econômico e campo de afirmação de identidades sociais e de valores culturais.
O critério de agrupamento de municípios geograficamente próximos é coerente, porém, é necessário justificar o modelo de mapeamento das regiões turísticas, tanto em âmbito nacional quanto em âmbitos estaduais. Com base em características e peculiaridades, evidenciam-se as potencialidades de atrativos e as dinâmicas de relações territoriais e organizacionais, que constituem as regiões turísticas.
Um dos questionamentos motivadores das análises apresentadas nessa coletânea de propostas temáticas para pesquisas foi entender as articulações, as confluências e as convergências das políticas públicas, nas várias esferas e instâncias da gestão (nacional, estadual, regional e municipal) do turismo.
No decorrer da disciplina ministrada no PPGTUR, busca-se discutir a atenção que a gestão regional do turismo deve dar para aspectos humanísticos, culturais, políticos, sociais e econômicos; priorizar interesses das comunidades locais; e, principalmente, formular modelos de gestão e de governança eficientes e eficazes, capazes de reduzir disparidades socioeconômicas e promover, de fato, o desenvolvimento regional.
A perspectiva é que o conceito de governança fundamente-se no caráter participativo, visando a consolidar redes com o objetivo de cooperar para o planejamento e a gestão dos destinos turísticos. Nesse contexto, os conhecimentos das teorias de clusters, arranjos produtivos, circuitos e cadeias produtivas de turismo são esclarecedores para as visões estratégicas da competitividade das regiões turísticas.
Considera-se, portanto, relevante difundir os resultados alcançados, para motivar discussões sobre questões teóricas e práticas da gestão regional do turismo, uma vez que as contribuições dos discentes autores, com formação acadêmica e percurso profissional distintos, podem despertar um olhar diferente sobre o tema tratado e motivar pesquisas e ações que venham a aprimorar o processo de regionalização da atividade turística.
Lançou-se, então, o desafio para as doutorandas Gleice Regina Guerra e Grislayne Guedes Lopes da Silva, de padronizar e organizar os textos produzidos pelos alunos em uma das dinâmicas pedagógicas iniciais da disciplina. As atividades incluíram revisões, complementações e adequações propostas aos textos dos colegas, sempre com o intuito de construir um material científico que representasse alunos e docentes do PPGTUR. Diante desse esforço, é possível afirmar que essa obra vai cumprir o objetivo de instigar pesquisas sobre os temas apresentados.
O conjunto de textos organiza-se em três partes, de acordo com as temáticas abordadas pelos autores. A Parte I versa sobre o PRT e as políticas públicas estaduais, regionais e municipais ligadas à atividade turística. A Parte II discute ações e diretrizes governamentais, do ponto de vista de alguns importantes segmentos turísticos. A Parte III aborda o planejamento territorial, com base na análise da realidade de alguns municípios brasileiros. A introdução do e-book, elaborada pelas organizadoras, contextualiza os leitores no trabalho de organização e sistematização da produção dos autores, conforme o quadro teórico de referência.
Na Parte I, Pedro Scrivano mostra que, embora os números apresentem avanços com a estratégia de regionalização do turismo, ainda há um extenso trabalho para atingir as metas globais previstas no Plano Nacional de Turismo (PNT) do Ministério do Turismo (MTUR). O texto de Fábio Grizoto fundamenta-se nos modelos de gestão e na regionalização do turismo no estado de São Paulo, enfatizando a possibilidade de transformação social pelo setor. Pela abordagem de Renata Robazza, infere-se que o modelo de regionalização do estado de São Paulo seria mais democrático que a categorização do Mapa do Turismo Brasileiro.
Alguns questionamentos consistentes sobre a aplicabilidade metodológica da hierarquização de atrativos, do módulo operacional 7, de Roteirização do PRT são formulados por Júlia Moreira de Deus. Laize Oliveira descreve pesquisas realizadas pelo MTUR e constata que há escassez de ferramentas para formular estratégias de promoção da oferta dos destinos turísticos. Ivan Rizzo apresenta importante análise crítica sobre a falta de regulamentação do fomento à atividade turística regionalizada, por meio de relações estratégicas, que transcendam o mapeamento e a categorização dos municípios.
Na Parte II, Juarez Velozo evidencia a representatividade cultural e turística da macrorregião Nordeste do Brasil pelo Centro de Tradições Nordestinas (CTN), na cidade de São Paulo. Fábio Barbosa contribui com estudo sobre o turismo ferroviário, evocando a expressão histórica da ferrovia brasileira e argumentando que a atual legislação não corresponde ao trabalho desenvolvido no segmento. Adriano Fernandes questiona a falta de políticas de turismo para o segmento LGBT, no cenário de envelhecimento populacional. Para Igor de Almeida, os parques nacionais, classificados como unidades de conservação (UC), poderiam proporcionar maiores retornos, se as políticas de turismo fossem mais eficazes e competentes.
Na Parte III, Amanda Borges enfatiza a diversidade e as potencialidades naturais e culturais do município da Abadiânia (GO) e discute a ausência de planejamento e de gestão do turismo local. Dayanna Flórez analisa, comparativamente, as políticas de turismo do Departamento de Antioquia (Colômbia) e do estado de São Paulo (Brasil), mostrando que as primeiras destacam-se das segundas, em relação a alguns aspectos. Mariana Tomazin descreve documentos e políticas atinentes ao Estado de Tocantins e ao município de Mateiros, a fim de justificar o desenvolvimento do turismo como alternativa ao agronegócio.
Para explicar o conceito de inteligência em turismo e suas aplicações, Renata Kazys destaca Monteiro Lobato (SP) como exemplo de cidade em condições de tornar-se um destino turístico inteligente. Ivaneli Schreinert afirma que os planos de turismo municipais, como o de Pelotas (RS), são mais importantes que os planos nacional e regional, em razão da consistência de seus conteúdos. Almir Marcellino enfatiza a necessidade de formulação do plano de turismo do Estado de São Paulo, a fim de orientar, objetivamente, as ações de âmbito regional e municipal, como em Praia Grande (SP). Simone Cardoso constata que o ecoturismo seria o segmento representativo para a consolidação da imagem do município de São Vicente (SP), visando ao maior reconhecimento pelo PNT.
Em sua análise abrangente, Ricardo Ragni indica que há avanços na aplicação do PRT na região do Vale do Ribeira (SP), mas ainda se apresentam desafios no turismo sustentável regionalizado. Tratando do mesmo território, Mariana Manzano questiona a viabilidade de alinhamento de um número significativo de municípios, na implantação do projeto Vale do Futuro como estratégia de desenvolvimento do turismo.
Espera-se que este material atenda ao interesse de leitores de diversas áreas do conhecimento e de diferentes níveis de formação, sobre desenvolvimento e gestão regional do turismo, além de subsidiar informações sobre a realidade da política pública brasileira acerca da regionalização do turismo e de ações práticas vivenciadas em alguns territórios brasileiros.
O link do livro é: O livro está disponível em http://each.usp.br/turismo/colecaoturismo.php
1º Título: Gestão Regional e Políticas Públicas de Turismo
Autores Adriano Carlos Nunes Fernandes Almir Douglas de Oliveira Marcellino Amanda Alves Borges Dayanna Fernández Flórez Debora Cordeiro Braga (Org.) Edegar Luis Tomazzoni (Org.) Fábio Luis Grizoto Fábio S. Barbosa Gleice Regina Guerra (Org.) Grislayne Guedes Lopes da Silva (Org.) Igor Carneiro de Almeida Ivan Rodrigo Rizzo Dias Ivaneli Schreinert dos Santos J. Laize S. Oliveira Juarez Velozo da Silva Júlia Moreira de Deus Mariana Manzano Lopes Mariana Tomazin Pedro Scrivano Renata Kazys de Oliveira Renata Robazza Ricardo Oliveira Ragni de Castro Leite Simone Monteiro Cardoso
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