top of page

REDE EMPREENDEDORA NO SEGMENTO DE TURISMO RELIGIOSO

  • Foto do escritor: Edegar Luís Tomazzoni
    Edegar Luís Tomazzoni
  • 25 de jun.
  • 4 min de leitura

Compreendido com a criação de novos negócios e atitude proativa diante dos desafios da sociedade, o empreendedorismo é central para a inovação e a transformação socioeconômica. Esse conceito vai além do ambiente empresarial tradicional e é protagonizado por indivíduos que idealizam, desenvolvem e implementam iniciativas capazes de gerar impacto positivos na sociedade. O empreendedor, nesse contexto, atua como agente de mudança, sendo influenciado pela cultura e pelas condições do meio em que está inserido, o que reforça a importância de ambientes propícios à sua atuação, com destaque para o incentivo à cooperação e à formação de redes de relacionamentos.

 

Para isso, é essencial investir na educação e na formação de empreendedores, por meio de sistemas de ensino que implementem metodologias voltadas à valorização da cultura da inovação e da cooperação. O objetivo é formar indivíduos aptos a identificar oportunidades e a atuar de forma integrada com diversos atores sociais. A ética, o conhecimento e a capacidade de inovar formam a base necessária para ambientes empreendedores sustentáveis, como destaca Timons, ao destacar o empreendedorismo como a principal revolução do século XXI.

 

A diversidade de perfis evidencia que o empreendedorismo transcende os limites do empresariado tradicional. Servidores públicos, artistas, trabalhadores autônomos, agentes políticos e líderes religiosos também podem atuar de maneira empreendedora, desde que apresentem características como iniciativa, autonomia, perseverança, otimismo, capacidade de enfrentar riscos e disposição para aprender com as experiências. A pluralidade das fontes de aprendizado inclui desde as experiências familiares, até redes profissionais e eventos especializados.

 

É evidente, portanto, que o empreendedorismo pressupõe articulações entre pessoas, organizações e instituições. As redes de relacionamento exercem papel decisivo no sucesso de um empreendimento, ao fornecer apoio técnico, intelectual, emocional e material. Nesse cenário, a liderança assume um papel central: a qualidade das equipes e a visão dos líderes são fatores determinantes para a viabilidade de projetos e para a capacidade de identificar novas oportunidades no mercado. Pesquisas indicam que a maioria dos empreendedores de sucesso já possuía entre oito e dez anos de experiência no setor antes de iniciar seu próprio negócio.

 

Contudo, é necessário superar os mitos que cercam o empreendedorismo, como a crença de que é restrito a jovens com elevado poder aquisitivo. O verdadeiro diferencial do empreendedor é a habilidade de planejar, construir redes de apoio, identificar problemas e criar soluções inovadoras. Essa perspectiva é reforçada por Peter Drucker, ao vincular o sucesso à gestão eficiente do tempo, à orientação para resultados e à capacidade de tomar decisões fundamentadas em diferentes pontos de vista.

 

Um exemplo expressivo de empreendedorismo, em sentido ampliado, é o Papa João Paulo II. Durante seu pontificado, realizou transformações significativas, nos âmbitos religioso, político e social. Criador da Jornada Mundial da Juventude, destacou-se pelo carisma, pela capacidade de articulação inter-religiosa e pelo engajamento com questões globais. Atuou ativamente na promoção dos direitos humanos, no combate ao comunismo na Europa Oriental. Sua atuação foi decisiva na queda do regime soviético na Polônia e na defesa da dignidade humana em diferentes contextos culturais. Foi um líder espiritual que soube mobilizar milhões de pessoas, utilizar os meios de comunicação para fortalecer sua mensagem e consolidar uma presença global da Igreja Católica. Sua trajetória evidencia como o empreendedorismo pode se manifestar na liderança espiritual, na inovação institucional e na mobilização em escala mundial.

 

A própria Igreja Católica constitui-se por uma extensa e complexa rede empreendedora. Com mais de 1,4 bilhão de fiéis, é a maior organização em funcionamento contínuo da história e atua em áreas como educação, saúde e assistência social, por meio de uma estrutura que inclui dioceses, paróquias e agentes pastorais. Essa capilaridade a posiciona relevante instituição religiosa, promotora do desenvolvimento social e cultural em diversas regiões do planeta.

 

As Pastorais da Igreja são exemplos concretos de práticas empreendedoras inspiradas na fé cristã, organizando ações para atender necessidades da população. A Pastoral do Turismo (Pastur) insere-se nesse contexto, ao unir evangelização e hospitalidade, acolhendo e informando visitantes em templos e santuários. Essa prática demonstra como o empreendedorismo também se realiza no voluntariado religioso, promovendo a integração entre fé, cultura e economia.

 

A interdisciplinaridade entre redes e práticas empreendedoras evidencia-se no campo do turismo. A segmentação do turismo, como estratégia de mercado, busca atender a demandas específicas, proporcionando experiências personalizadas aos viajantes. Em uma sociedade orientada pela busca de vivências significativas, a oferta de produtos e serviços diferenciados é vantagem competitiva, com base em critérios que vão de aspectos demográficos e econômicos, até motivações psicológicas e motivações comportamentais.

 

Entre os diversos segmentos, o turismo religioso destaca-se pela capacidade de mobilização e pelo impacto econômico. Estima-se que movimente mais de trezentos milhões de pessoas ao ano no mundo, fomentando o crescimento de cidades-santuário e articulando fé, cultura e empreendedorismo. No Brasil, o setor movimentava cerca de dezesseis bilhões de reais por ano, fortalecendo cadeias produtivas, que envolvem hospedagem, alimentação e comércio de artigos religiosos.

 

Santuários como os de Nossa Senhora Aparecida (SP), Horto do Padre Cícero (CE), Divino Pai Eterno (GO) e Santa Paulina (SC) contribuem significativamente para a dinamização socioeconômica dos destinos de turismo religioso. Além de proporcionar experiências espirituais, esses espaços mobilizam voluntariado, geram empregos e reforçam identidades locais, fomentando a economia criativa.

 

O empreendedorismo, quando compreendido em sua complexidade, transcende a criação de negócios e manifesta-se como prática relacional, fundamentada na cooperação, na ética e na capacidade de mobilizar pessoas e recursos em torno de propósitos coletivos. No contexto do turismo religioso, evidencia-se a integração entre fé, organização comunitária e dinamização econômica, demonstrando que iniciativas empreendedoras também mobilizam esferas simbólicas e sociais. Essa perspectiva exige abordagens que reconheçam a diversidade das visões dos atores, o papel das redes e a centralidade dos valores para o desenvolvimento socioeconômico.


 
 
 

Comments


OBSERVATUR - 2020 - Todos os direitos reservados

bottom of page