As reflexões do artigo publicado em 2015 na revista Turismo e Sociedade da UFPR são mais atuais do que nunca. No estudo, argumentava-se que, em razão da diversidade de segmentos em turismo e lazer, a formação do profissional na área é, ao mesmo tempo, complexa e promissora. O estudo discute a aprendizagem baseada em resolução de problemas (ABP), que se diferencia, significativamente, da pedagogia tradicional, em que o professor, por meio de aulas expositivas, é o principal ator do processo de ensino. O objetivo do artigo foi analisar as contribuições da disciplina Resolução de Problemas II (RP II) para o ensino e para a produção de conhecimento em turismo e lazer. A disciplina integra a grade curricular do Curso de Bacharelado em Lazer e Turismo, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), da Universidade de São Paulo (USP).
No método do artigo, descreve-se a dinâmica pedagógica e, como exemplos, destacam-se dez estudos produzidos, nos anos de 2012 e 2013, pelos grupos de alunos. A experiência mostra que o intercâmbio de ideias, por meio de discussões, as pesquisas de campo e o autoaprendizado instigam os alunos, dos primeiros semestres do curso, à produção de conhecimentos e ao desenvolvimento de habilidades para intervenções na realidade e para inserção no mercado de trabalho.
A atuação de professores qualificados e em condições ambientais adequadas é essencial para a qualidade e o sucesso dos cursos. Quanto maior a participação de todos os atores (professores e alunos) nas propostas pedagógicas e curriculares, mais favoráveis serão as condições de eficácia da aprendizagem e de qualidade da educação. Um dos desafios é o monitoramento da satisfação dos alunos, dos egressos e dos responsáveis pelo mercado para identificar necessidades e atender às expectativas. Com base na visão dos sete saberes da educação do futuro, de Morin (2004), e na pedagogia libertadora de Freire (1997), é importante reconhecer a atuação dos atores da sociedade e do mercado, tanto no sentido de empreendedorismo quanto no sentido de produção de conhecimento, com base nos conhecimentos tácitos, espontâneos e vivenciais da realidade.
Entre os diferenciais da proposta, destaca-se a liberdade de escolha dos meios e dos recursos de estudo pelos alunos, que são instigados pelo professor a identificar as fontes da fundamentação teórica. Essa estratégia (bem como todo o processo da disciplina) estimula os alunos à proatividade pedagógica. Outra característica inovadora do método é a proatividade do aluno e a postura interativa do professor, que assume papel de tutor, e cuja presença e participação mantêm-se essenciais.
Na condição de tutor, o professor explica os procedimentos metodológicos, organiza e articula os grupos, acompanha e monitora os trabalhos, orienta e informa sobre conteúdos e referenciais teóricos, questiona o desempenho e os resultados e avalia os projetos e relatórios de pesquisa produzidos pelos alunos. Historicamente, entre as razões do surgimento dessa dinâmica pedagógica, estão o avanço da tecnologia da comunicação e da informação, a velocidade da produção de conhecimentos e das mudanças da sociedade. A internet e a expansão dos veículos de imprensa democratizaram a facilitaram o acesso a miríades de conteúdos.
Nesse contexto, questionou-se o método tradicional, cuja dinâmica é a exposição de conteúdos exclusivamente pelo professor, a memorização pelo aluno e a aferição da assimilação por meio de provas. A metodologia do novo modelo, que se denominou Problem Based Learning (PBL), ou Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), surgiu no final de década de 1960, na Universidade de Maastricht e foi também aplicada na Universidade de McMaster (Canadá).
Entre outros referenciais, a Aprendizagem Baseada em Problemas fundamenta-se na filosofia da educação, do filósofo americano John Dewey (1952, 1959), cuja proposta é o desenvolvimento da visão crítica do aluno. (Deuey, 1961, 1979a, 1979b). A atribuição de excessiva responsabilidade ao professor, como protagonista central da educação, implicou mudanças do paradigma pedagógico, por meio de atividades interativas.
No método ABP, formam-se grupos, em que os alunos buscam a solução de problemas por meio de estudos de casos. Nesse processo, o aluno é motivado à produção de conhecimentos pela revisão e aplicação de conceitos à análise da realidade e à elaboração de novos conceitos. O educador é menos pressionado pelas exigências de domínio de conteúdos, pelas avaliações de desempenho, pelos gestores e pelos alunos, reduzindo-se riscos de desgastes psicológicos e profissionais de não atender às expectativas de atualização e de monopolização de conhecimentos. Além da reflexão sobre questões de seu interesse e de interesse coletivo e da criatividade nas soluções de problemas reais, os alunos são estimulados a trabalhar em equipe, a respeitar diferentes visões e a implementar métodos científicos fundamentados nos valores morais e humanísticos da sociedade. A razão da motivação e do comprometimento da equipe é o desafio da solução de problemas da realidade com os quais os alunos se identifiquem.
Nesse sentido, os docentes, tutores da disciplina, que faz parte da estrutura curricular de cursos superiores, tanto das ciências sociais e humanas quanto das ciências exatas, podem sugerir diversas temáticas orientadoras, a fim de facilitar a definição e a contextualização dos problemas. O mais coerente é que os próprios alunos definam as temáticas, de acordo com o contexto epistemológico de seus cursos. Em cenário de globalização e de competição, aumenta a necessidade de cooperação para o desenvolvimento de competências por métodos descentralizados, em que predominem a participação e o comprometimento individual com a equipe e com a coletividade.
Comunicação, intercâmbio de ideias, interatividade e iniciativa são habilidades exercitadas na formação de competências para lidar com incertezas, por meio de visões inovadoras que articulem a teoria com a realidade. Ao mesmo tempo em que é incentivado ao autoaprendizado, o aluno aprende a estabelecer relacionamentos profissionais e a tomar decisões com base no espírito democrático e no consenso.
O texto completo do artigo, Educação e Produção de Conhecimento em Turismo e em Lazer com Base na Dinâmica Pedagógica de Resolução de Problemas, pode ser acessado em: https://revistas.ufpr.br/turismo/article/view/41235/28387
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