TEORIAS ECONÔMICAS, JUVENTUDE E MERCADO DE TRABALHO NO SETOR DE TURISMO
- Edegar Luís Tomazzoni

- 20 de ago.
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Atualizado: 25 de ago.
A evolução do pensamento econômico, de Adam Smith aos autores contemporâneos, oferece uma base interpretativa para compreender os mercados em geral e para refletir sobre setores específicos, como o turismo. Por sua característica multidimensional - envolvendo cultura, infraestrutura, tecnologia e meio ambiente - o turismo é um campo fértil para aplicar e articular as diferentes teorias econômicas, esclarecendo como os jovens podem se inserir nesse setor de forma inovadora.
Os clássicos liberais, como Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill, lançaram os fundamentos de que a divisão do trabalho e as vantagens comparativas impulsionam o crescimento. No turismo, isso significa que profissionais prosperam ao explorar seus diferenciais: belezas naturais, patrimônio cultural, hospitalidade ou serviços especializados. Para os jovens, as lições smithiana e ricardiana são claras: investir em qualificação profissional em áreas específicas (guias, gestão hoteleira, marketing digital, produção cultural, enogastronomia) é a forma mais eficaz de aumentar sua produtividade e empregabilidade. Com base em Mill, que introduzir preocupações sociais e éticas, o trabalho no turismo deve ser pensado em termos de eficiência e também de bem-estar, direitos trabalhistas e qualidade de vida, aspectos essenciais em um setor muitas vezes marcado por sazonalidade.
A crítica de Karl Marx, quando aplicada ao turismo, enseja reflexões sobre oportunidades de atuação edificante no sistema capitalista de livre mercado em que o setor se contextualiza. A visão crítica sobre o mercado de trabalho abre espaço para modelos inovadores. O turismo comunitário, a economia solidária, a valorização da cultura local e a adoção de práticas criativas e sustentáveis mostram que é possível construir um setor mais inclusivo. Para os jovens, compreender essa perspectiva significa reconhecer as contradições e vislumbrar oportunidades de inserção profissional em iniciativas que defendam trabalho digno, equidade e respeito às comunidades receptoras.
No século XX, John Maynard Keynes mostrou que o emprego depende da demanda agregada, visão que se articula diretamente ao turismo, setor extremamente sensível ao ciclo econômico. Políticas públicas de investimento em infraestrutura, promoção de destinos e qualificação profissional têm impacto direto na geração de empregos turísticos. Para os jovens, a leitura keynesiana significa que suas oportunidades de inserção nesse mercado dependem de sua formação e de um Estado atuante, que promova o turismo como política pública e o reconheça como campo de desenvolvimento econômico e social.
Ao mesmo tempo, Joseph Schumpeter destacou a força da inovação e do empreendedorismo como motores da transformação econômica. No turismo, essa visão se manifesta em startups de tecnologia de viagens (travel techs), plataformas digitais de hospedagem e experiências, novos formatos de turismo sustentável e criativo. Para os jovens, a lição schumpeteriana é que a inovação é diferencial competitivo: criar roteiros inéditos, integrar tecnologia aos serviços, explorar economias criativas locais são formas de se destacar em um setor em constante reinvenção.
A Escola Austríaca, com Carl Menger, Ludwig von Mises e Friedrich Hayek, contribui ao reforçar a centralidade da utilidade percebida e da ação individual. No turismo, isso significa que a experiência do viajante é subjetiva e moldada por percepções de valor. Para os jovens, a inserção passa pela capacidade de compreender desejos e expectativas dos turistas, oferecendo serviços personalizados e inovadores. Mises reforça a liberdade de empreender, algo crucial para quem deseja abrir negócios no setor turístico, enquanto Hayek lembra que o conhecimento é disperso, estimulando a juventude a ser flexível e adaptável, antecipando tendências e respondendo a mudanças do mercado, como a crescente busca por turismo sustentável e experiências autênticas.
Nessa mesma linha crítica, a teoria cepalina (Raúl Prebisch e a CEPAL) introduziu a análise do sistema centro-periferia, mostrando que países periféricos ficam presos à dependência de exportação de produtos primários e ao consumo de serviços voltados ao capital externo. No turismo, isso se manifesta quando destinos do Sul Global se tornam dependentes de turistas estrangeiros e de grandes operadoras internacionais, muitas vezes com pouca retenção de riqueza local. Para os jovens, a lição da CEPAL é clara: é preciso fortalecer cadeias produtivas nacionais e regionais, promover o turismo interno e comunitário e valorizar a produção cultural local, de modo que o emprego seja essencial no desenvolvimento autônomo.
Milton Friedman, defensor do livre mercado, inspira reflexões sobre a abertura do turismo à concorrência internacional e à privatização de serviços. Para os jovens, isso pode significar mais oportunidades em ambientes competitivos, em condições de trabalho compensadoras e motivadoras. Assim, a lição friedmaniana aponta tanto para a valorização da iniciativa individual quanto para a necessidade de olhar crítico sobre os limites de uma lógica puramente de submissão aos riscos não mensurados do mercado no turismo.
Outros pensadores do desenvolvimento ampliaram o debate. Albert Hirschman mostrou que os setores econômicos se desenvolvem em encadeamentos produtivos, algo muito evidente no turismo, que articula transporte, hotelaria, alimentação, artesanato e produções artístico-culturais. Para os jovens, isso significa que sua inserção não está limitada a um único segmento, mas pode se dar em diferentes elos da cadeia, ampliando possibilidades de carreira.
Gunnar Myrdal, ao apresentar o modelo de causação cumulativa, alertou que desigualdades tendem a se perpetuar. Assim destinos turísticos mais ricos atraem mais investimentos e oferecem oportunidades a jovens qualificados, enquanto regiões pobres permanecem marginalizadas. Essa visão chama a atenção para a necessidade de políticas que ampliem oportunidades em regiões menos consolidadas. Douglas North, ao destacar o papel das instituições, mostra que a força do turismo depende de boas regras, governança e segurança jurídica. Para os jovens, isso significa que sua empregabilidade está ligada também à solidez das instituições que organizam e regulam o setor.
Economistas contemporâneos, como Amartya Sen, concebem o desenvolvimento como expansão de liberdades, o que significa que o turismo deve ser pensado como espaço de realização de capacidades humanas. Para os jovens, isso reforça que o trabalho nesse setor, além de uma fonte de renda, é um meio de exercer cidadania, dignidade e identidade cultural. Com base na análise de Mariana Mazzucato, se o Estado empreendedor é crucial para criar mercados, então, no turismo, há investimento em infraestrutura, inovação tecnológica e promoção internacional.
Para os jovens, a teoria dessa autora traduz-se em reconhecer que muitas oportunidades surgem de políticas públicas estratégicas, como programas de capacitação, financiamento de pequenos empreendimentos e estímulo ao turismo sustentável. Por fim, Ha-Joon Chang evidencia que o desenvolvimento não é fruto do livre mercado, mas de políticas industriais e estratégicas, que, portanto, podem ser aplicáveis ao turismo: subsídios, incentivos e políticas de valorização cultural criam novos segmentos e geram empregos, contemplando diretamente a juventude, que busca inserção profissional.
Ainda, nas últimas décadas, autores como Daniel Kahneman e Richard Thaler apresentaram o modelo da Economia Comportamental, mostrando que as decisões econômicas não são puramente racionais, mas influenciadas por vieses cognitivos, heurísticas e percepções subjetivas. No turismo, isso se manifesta nas escolhas de viagens motivadas por emoções, status, modismos ou “empurrões” (nudges), criados por plataformas digitais. Para os jovens, isso abre espaço para profissões ligadas a marketing digital, design de experiências e análise de comportamento do consumidor, pois compreender como turistas decidem amplia a capacidade de criar produtos e serviços inovadores. A lição de Kahneman e Thaler é que, para se inserir com sucesso, o jovem deve unir competências técnicas e compreensão psicológica do comportamento humano.
Ao articular o pensamento econômico com o setor de turismo, percebe-se que os jovens encontram um campo que reúne tanto as oportunidades de especialização e inovação (Smith, Ricardo, Schumpeter, Menger) quanto os desafios da desigualdade e da precarização (Marx, Myrdal, Friedman). Além disso, a inserção depende fortemente do ambiente institucional e das políticas públicas (Keynes, Prebisch, North, Mazzucato, Chang) e deve ser entendida também como espaço de realização de capacidades humanas (Mill, Sen, Thaler, Kahneman). Assim, o turismo, mais do que um setor de serviços, é campo promissor, fundamentado pelas principais teorias econômicas. Para os jovens, compreender esse conjunto de ideias é fundamental para vislumbrar espaços de atuação profissional, com base em formação sólida, consciência crítica, criatividade, participação em políticas que ampliem oportunidades coletivas e espírito empreendedor.

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